[REVIEW] Batman: O Último Cavaleiro da Terra

Primeiramente, gostaria de enfatizar que o objetivo desse review não é analisar página por página da história de Snyder e Capullo. Não, aqui vamos levantar o básico do enredo e citar pontos altos e baixos da minissérie. E um aviso amigável: pode ser que tenham alguns spoilers no decorrer do texto.

Vou começar dizendo que não sou a pessoa mais familiarizada com o trabalho do Scott Snyder à frente do Batman, mas se tem uma palavra que eu tenho certeza que define tal trabalho é: polêmico. Alguns o consideram genial, outros o consideram pretensioso e megalomaníaco.

Tenho amigos que acham, por exemplo, o Batman que Ri o melhor personagem dos últimos tempos, mas tenho amigos que sentem até dor de barriga só de ouvir esse nome.

Apesar de não ser familiarizado com o Snyder, não posso dizer o mesmo do Batman, que – juntamente com seu núcleo familiar – sempre foi um dos meus personagens favoritos. Então, afirmo que posso ser uma boa pessoa para fazer esse review. Não tenho opinião já formada sobre o autor e, ao mesmo tempo, tenho um bom conhecimento sobre o personagem principal. Então, sem mais delongas – porque eu sei que vocês querem ler a review e não a minha explicação do motivo de eu ser uma boa pessoa para fazê-la – vamos lá!

Batman: O Último Cavaleiro da Terra é uma revista do selo DC Black Label, que publica revistas para leitores adultos. Essas histórias – que contém uma boa dose de violência – não são canônicas, apresentando versões – passadas, futuras, ou presentes – “alternativas” dos heróis da editora.

A história começa com Batman resolvendo um caso estranho. Durante meses, alguém havia desenhado linhas sob toda Gotham City e tais linhas formavam um desenho: o contorno do Batman caído no chão, similar a uma cena de crime da polícia e onde estaria o coração do morcego é o Beco do Crime, local onde os pais de Bruce Wayne – também conhecido como Batman, mas se você leu até aqui, provavelmente já sabe – foram assassinados.

 

Investigando o local, o Batman apaga e acorda em uma maca, preso, recebendo tratamento em um local para onde ele já enviou muitos: o Asilo Arkham. Aqui, Snyder levanta um questionamento interessante: e se Bruce Wayne não fosse o Batman, mas sim um homem louco que criou diversos antagonistas e aliados em sua mente? E se ele fosse o responsável pela morte de seus pais e todo aquele cenário caótico de Gotham fosse uma resposta de sua mente para protegê-lo de ter que lidar com as consequências de seus atos? São questões interessantes, mas já discutidas à exaustão pelos fãs mais conspiratórios do Homem-Morcego. Particularmente, eu acharia interessante ver essas discussões mais aprofundadas, ter foco em um Batman “mais louco que o Batman” e ver onde isso podia dar. Mas, acho que isso fica para uma próxima revista com o selo Black Label, porque a partir daqui, saímos do sonho febril e caímos em um pesadelo pós-apocalíptico onde apenas o Batman pode salvar o mundo, que descobrimos ter sido dominado por um tal de Ômega.

A história escrita por Snyder é muito bem amarrada e os personagens adaptados aqui são realmente bizarros. Temos mutações da família Flash – ou o que sobrou dela -, transformados em um tornado de Força de Aceleração; anéis dos Lanternas Verdes entregues para pessoas que não tinham a força necessárias para usá-los e um Caçador de Marte numa versão bem estranha. Mas dentre todas as bizarrices, creio que o meu design favorito seja da dupla Bane e Espantalho, que parecem saídos de um filme de terror (ou de um jogo de Moral Kombat).

 

 

Claro, não podemos atribuir todo o crédito pela ambientação medonha e desconfortável ao roteiro. A arte de Capullo aqui é a cereja do bolo. Quando comecei a leitura, não me atentei ao nome do artista e pensei “nossa, o Romita Junior deu uma caprichada aqui”. Algumas páginas depois, pensei “não, acho que foi o Frank Miller que reaprendeu a desenhar”. Por fim, desisti de tentar adivinhar e fui para os créditos: Greg Capullo, Jonathan Glapion e FCO Plascencia, sendo Capullo o artista principal. Os cenários misturam um pouco de Mad Max com Cidade das Sombras e os personagens têm um visual meio “punk rock oitentista” futurístico que casam bem. Quem nunca quis ver a Mulher Maravilha de moicano?

 

Mulher-Maravilha de moicano é muito Mad Max

 

Mas nem tudo são flores no festival. Confesso que a edição introdutória foi um pouco abaixo do que eu esperava. Não que tenha sido ruim, longe disso, mas foram muitas mudanças de cenário em poucas páginas e muitas informações plantadas em pouco tempo. O ritmo é acertado nas duas edições seguintes, mas temos ainda o que – a meu ver – é o pior problema da história: o vilão.

Não vou entrar em detalhes aqui para não estragar a maior surpresa da revista, mas temos aqui o vilão mais previsível que você pode imaginar. Admito, é um confronto um pouco catártico e a batalha final vale a espera e o crescendo que foi realizado até chegarmos nela, mas ainda assim. Quando o vilão foi revelado – em mais um ótimo quadro do Capullo, diga-se de passagem – eu não fiquei surpreso, eu não entrei em choque. Eu só virei a página e continuei a história.

Outro ponto negativo, é a explicação sobre a investigação inicial que a revista traz e como ela se conecta ao restante da história. Pareceu um plot um pouco forçado e sem uma relevância realmente significativa para a história. Apenas uma desculpa para dar a certo personagem querido pelos fãs um pouco mais de relevância no quadro geral de O Último Cavaleiro da Terra.

O Batman de Snyder é um pouco diferente do que estou acostumado a ver, pelo menos aqui nesta leitura. Ele confia mais nas pessoas, é mais humano e talvez até um pouco ingênuo por vezes. Como dito quase que explicitamente no decorrer da revista, ele é um raio de esperança que quer trazer à tona o melhor em nós. Um conceito um pouco Superman, mas nem de todo negativo quando aplicado ao Homem-Morcego. Afinal, ele é, de fato, humano. Ele quer que o bem prevaleça. Pode parecer um pouco indigesto ver o Batman assim, mas acaba por valer a pena e, ao fim da história, ser coerente.

Aos fãs do Snyder, creio que essa obra deve “fechar o ciclo” da visão dele sobre quem é o Batman; então, essa com certeza é pra vocês. Aos fãs do Homem-Morcego que não conhecem o Snyder, assim como eu, eu afirmo que a leitura vale a pena. São 3 edições de cerca de 60 páginas cada, mas a leitura é bem fluida e em nenhum momento cansativa. Já aos haters do Scott Snyder, deem uma chance pra essa revista. Nas palavras de um amigo que está no mesmo barco que vocês: “essa revista devia se chamar ‘Snyder: A Redenção’.”

Brincadeiras, à parte, o saldo final de Batman: O Último Cavaleiro da Terra é positivo e vale a leitura. A ambientação é ótima e os questionamentos feitos ao morcego e pelo morcego também nos fazem pensar um pouco sobre a humanidade, sua salvação e o que ela realmente significaria. Temos ótimas sequências de ação e quadros muitos bem desenhados. Inclusive, se o Snyder resolver revisitar esse universo contando histórias sobre as Amazonas, mais aventuras da Corte das Corujas, ou uma viagem maluca no tornado de Força de Aceleração, eu acompanharia sem pensar duas vezes.

Batman: O Último Cavaleiro da Terra já teve suas duas primeiras edições publicadas no Brasil pela Panini Comics. Você pode adquiri-las na Loja Panini ou na Amazon pelo preço de capa. A terceira edição estava prevista para o mês de maio, porém devido as complicações com o COVID-19, não temos uma nova data para lançamento.

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