Guia prático pra iniciantes em 007 (parte 1)
Com a chegada de 007 – “Sem tempo irmão”, vi muita gente nas redes sociais perguntando quais filmes assistir antes pra poder entender este novo episódio da franquia, bom, spoiler: você só precisa assistir todos os filmes do Craig, já que Cassino Royale (o primeiro do ator) é uma espécie de reboot da franquia, e seus filmes são os únicos em décadas que mantem uma certa continuidade.
pronto, já lhe respondi, pode fechar o artigo e ir embora!
Nah, brincadeira, sim, de fato falando só do atual filme de Craig, você só precisa assistir aos filmes recentes a partir de Cassino Royale, mas CASO você queira ir além no mundo do espião britânico comedor de casadas e matador de comunistas do DJABO, eu sugiro dar uma olhadinha no meu resumão de cada “era” da franquia, delimitadas por seus respectivos atores, que tornavam cada fase única por seus estilos pessoais de atuação e personalidade, mas também por diversos fatores que criavam uma uniformidade entre os filmes de um mesmo ator (direção, mudanças culturais e politicas no mundo, maneirismos de cada época…) até chegar no próximo interprete e virarem tudo de ponta cabeça!
Não quer dizer que tudo é absoluto: “Craig é realista”, “Roger Moore é o engraçadão” tem sim um ou outro filme que destoa do padrão de cada ator, mas aqui exceções são raras e pontuais o bastante para poder sim comentar de cada fase sem precisar falar de cada um dos 25 filmes da franquia individualmente, com isso em mente, vamos lá:
Era Connery
de 1962 à 1971 (com pausa em 1969)
6 filmes no total:
Dr. No, From Russia with Love ,Goldfinger ,Thunderball ,You Only Live Twice ,Diamonds Are Forever
(é, botei tudo em inglês prq esses são os links pra Wikipédia mas principalmente prq me recuso a chamar “From Russia With Love” de “MOSCOU CONTRA 007”, vsf tradutores brazucas!)
A era Connery é a primeira, e obviamente tratada por todos os fãs como a mais clássica, o Bond de Connery é aquilo que os tiozões reaças chamariam de “007 raiz”: um tanto brucutu, matava sem remorso só pra ver o tombo, e no fim do dia pegava todas as mulheres do mundo (o cara com o “bilau mágico” como uns mais emocionado já literalmente disseram).
Seus filmes tinham muita influência da guerra fria, eram focados em investigação e espionagem clássica, não eram tão recheados de ação (pelo menos comparados com filmes mais novos até da própria franquia), preferindo focar em diálogos e narrativa detetivesca, mas tinha sim sua cota de tiroteio e porradaria, que podem até não parecerem grandes coisa hoje em dia, mas eram pelo menos melhores do que as dos filmes do Roger Moore!
Já até tinha tramas viajadas envolvendo roubos de ogivas nucleares, satélites russos, ou invasão do Fort Knok por exemplo, mas de um modo geral, tinha um pé na realidade, as tramas ainda eram palpáveis e tentavam tornar verossímeis mesmo esses roubos escalafobéticos, assim como na hora da porrada Connery ainda era um cara que sofria pra matar UM capanga (como o próprio Craig que bebeu bastante dessa “fonte original”) enquanto os sucessores já se tornaram um “exército de um homem só” antes mesmo de Rambo fazer isso ser uma moda
Bebo, fumo, mato e meto (não nessa ordem)
A fase Connery é a única fora a era Craig que tinha continuidade, e ainda que Bond enfrentasse vilões individuais icônicos como Goldfinger e Dr. No cujos nomes até davam título aos filmes, o que mais marcou sua era foi a organização Spectre e seu lider: Blofeld, o clássico vilão e arqui-inimigo de Bond, sempre de terninho cinza com gato branco a tira-colo imortalizado pelo Dr. Loomis, digo, Donald Pleasence (ainda que tenha sido só uma vez) vilão que mesmo quem nunca viu 007 conhece nem que seja pela paródia do Dr. Evil em Austin Powers, de início aparecendo só como uma voz, ou uma mão acariciando o tal gato, sempre manipulando tudo, construindo o suspense por vários filmes (chupa Marvel, 007 inventou o planejamento pro vilão final, 50 anos antes do Thanos do MCU) até finalmente se revelar em “Só se vive duas vezes” na pele de Pleasence (depois vira putaria e muda de interprete e aparência a cada filme)
“Deixo vc vivo se fizer carinho no gato”
teve 15 Blofeld, mas vc só vai lembrar do Pleasence por causa do Dr. Evil
Pontos negativos: Bond era O símbolo de porralouquíce anárquica e libertação sexual de toda uma geração, chocou os conservildos sendo o avatar dos maneirismos da era moderna… SÓ QUE NOS ANOS SESSENTA! obviamente como um produto de sua época, ele ficou datado e envelheceu meio mal, tanto pode incomodar o ritmo mais lento e investigativo que deixava pra mostrar tiro, porrada e bomba só mais lá pro final (e quando tinha não era grandes coisas, graças as limitações técnicas da época) como pode incomodar pelas problemáticas obvias de um produto antigo (machismo e xenofobia nunca faltam por exemplo)
Also, Ursula Andrews saindo de biquini da água pode até ser considerado “Male Gaze” hoje em dia (mimimi, #lacrei), mas na época foi um puta choque na sociedade careta sessentista, e isso alguma coisa quer dizer!
O que esse corno tá fazendo?… isso, isso não faz sentido NENHUM! cadê gravidade?
Era Lazenby
1969 (só um filme)
On Her Majesty’s Secret Service‘
“A Serviço Secreto de Sua Majestade” é um dos melhores filmes de 007, e não tem como falar muito do porquê sem dar spoiler, por isso sendo mais objetivo: é um filme tão importante que mesmo tendo sido feito com um ator rejeitado pelo público (por ser meio feioso e esquisitão) a ponto de trazerem o Sean Connery de volta pra uma “despedida de verdade” na sequência, ainda assim é lembrado até hoje com carinho por praticamente toda a fanbase, tão bacanuda e surpreendente é sua história, um tanto diferente e mais puxada pra algo romântico e sentimental, resumidamente, Blofeld tem um plano de espalhar uma praga no planeta usando garotas inocentes que ele ludibriou e infectou com um vírus que causa esterilidade, para encontrá-lo e impedir isso, Bond faz um acordo com um chefe da máfia em troca da informação, o acordo? casar com a filha do sujeito e… só posso contar até aí, só vá assistir e se desvie de spoilers
“-vc não é o Blofeld, ele não tinha essa cara”
“-nem vc tinha essa”
Canela de goleiro irresistível
Pontos Negativos: Lazenby consegue segurar o filme mesmo não sendo Sean Connery, mas querendo ou não ele é esquisitão no papel, e vê-lo disfarçado de escocês usando um kilt com aquelas canelas grossas não ajuda a melhorar essa impressão, fora isso, tem o machismo típico da época né, se não me falhe a memória esse é outro dos filmes onde Bond dá uma bolacha na cara da mocinha a troco de nada pra ela sossegar, fora que mesmo ele estando em tese comprometido, ele chifra a moça com todas as meninas do esquema de Blofeld (muito feio Sr. Bond, ainda mais quando eu acabei de falar que esse é um dos filmes com trama mais romântica e sentimental)
que porra de foto é essa manolo?
Era Moore
de 1973 à 1985
7 filmes:
Live and Let Die , The Man with the Golden Gun , The Spy Who Loved Me, Moonraker, For Your Eyes Only, Octopussy, A View to a Kill
Indo por uma vibe completamente oposta de Sean Connery, muito mais divertida, despretensiosa e rocambolesca, Roger Moore era o James Bond dos anos 70… bem, e dos 80 tbm, de fato a galera gostou da nova pegada e ele ficou tanto tempo no papel (tanto em anos quanto em quantidade de filmes) que ele só largou o osso prq já tava caindo dentes, se Sean Connery era a fantasia masculina de poder do tiozão do churrasco, Roger Moore ERA o próprio tiozão do churrasco! basta resumir que Moore esta para 007 assim como Adam West está para Batman e vc vai entender exatamente o que eu quero dizer.
Aqui talvez por falta de interesse em Spectre e Blofeld (na real houveram problemas com direitos autorais no uso desses elementos após o rompimento de Saltzman e Brocoli, os dois detentores dos direitos do espião) ou mesmo pela simples estranheza de se mudar constantemente o ator e tentar vender que é o mesmo personagem, a continuidade que antes já era pouca e cheia de incongruências vai pro saco de vez, só pra não dizer que não tocaram no assunto, Roger Moore meio que “se livra” de Blofeld… (de um jeito bem covarde, tosco e anti-climático, vale ressaltar) e bola pra frente, o negócio era adaptar os outros livros e explorar os demais vilões exóticos!
A partir de então, os filmes do Moore chutam o balde da verossimilhança e seriedade e adotam de vez o tom galhofa, e de aventura fantástica, Bond enfrenta missões cada vez mais megalomaníacas, vilões cada vez mais cartunescos, como o icônico Jaws, o gigante com dentes de aço que meio que inaugurou a moda do capanga brucutu com alguma deforminidade (e não só em 007)
Dentre os chefões tbm tinha todo tipo de cara bizarro, tem o Christopher lee (que bem, é o Christopher Lee), tinha o maluco com “mão de nadadeira” tarado por oceanos que quer explodir o mundo e criar uma nova raça no mar, tem OUTRO maluco meio nazi que quer fazer EXATAMENTE a mesma coisa só que no espaço… SIM, 007 VAI PRO ESPAÇO!!! (Moonraker no romance é simplesmente sobre um foguete nuclear roubado por um ex nazista, mas como esse plot já tava manjado na série e como Star Wars estava em alta…) Bond deixa de ser um mero espião e se transforma em algo mais parecido com um herói de quadrinhos, que salva o mundo todo fim de semana como quem não quer nada, de fato, eu tenho certeza de que muita coisa em HQ e cultura pop em geral bebeu da fonte desses filmes.
Nem no espaço essas mulheres vestem roupa nessas artes de capa
Os fãs de espionagem mais séria como a saga Bourne, ou oldschool como a própria era Connery podem odiar… mas para fãs de ficção científica e aventura retrô e até de algo mais TRASH a era Moore é uma ótima pedida, tem muito efeito especial artesanal, bases de vilões em miniatura, é tudo muito bem feitinho que ainda é agradável de se olhar…
E apesar de estarem distantes só uma década da era Connery eu já acho os filmes do Moore bem mais movimentados em termos de ação, aqui os tiroteios, perseguições de carro, e brigas são bem mais numerosas e constantes em cada filme, especialmente em comparação com Connery (mas não se anime, quantidade não era bem… qualidade e já vou dizer prq)
Pontos Negativos: para o bem ou para o mal, o tom mais pastelão e farofa é o fator mais presente nesta saga, e isso em excesso com certeza vira um problema, os filmes do Moore podem ser divertidos para quem quer aventuras mais descompromissadas, mas são tão datados quanto os do Connery, mas de uma maneira diferente: começa que Moore já pegou a franquia velho (ele era opção pro papel ANTES do Connery!) então, não deixa de ser CRINGE ver aquele tiozão jurássico querendo pagar de fodelão na cama dando bitoquinha em ninfetas que podiam ser filhas (as vezes NETAS) dele, e quanto as cenas de luta, PELA CHAGA DE CRISTO, não é nem que o Moore não soubesse lutar (ele não sabia) mas é que as cenas de briga nos filmes dele são nível filmes dos Trapalhões, inclusive até hoje fico na dúvida se o Baiaco não era dublê do Roger Moore tbm, prq em várias cenas eu juro que quem tava saindo na porrada ali era o Didi Mocó
Porra Moore, me ajuda a te ajudar
Some à isso cenas de 007 pulando de cipó com sonoplastia do Tarzan, ou desarmando uma bomba vestido de palhaço. você entende o nível da pamonhíce que tu está querendo encarar, divertido? talvez pra época (como eu disse, a galera amou demais essa pegada) mas hoje em dia é meio tenso de assistir certas passagens sem querer se afundar no sofá de vergonha, então, esteja avisado
Mano, prq eles cagam tanto pra física quando vão desenhar esses posteres?
e por enquanto é isso meus amigos, o artigo ficou muito longo, então estou dividindo em 2, logo venho com Timothy Dalton e Pierce Bronsan, estejam ligados!
Um comentário em “Guia prático pra iniciantes em 007 (parte 1)”